quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Educação, telenovela e crítica

No artigo de Maria Lourdes Motter a mesma propõe questionamentos sobre os fatores capazes de justificar a omissão da escola com relação ao gênero telenovela, sabendo-se que afeta não só a expressiva parcela da população brasileira que a assiste, mas atinge indiretamente todos os outros segmentos, uma vez que mecanismos de repercussão a difundem para toda a sociedade. Observa que ignorá-l, quando se objetiva trabalhar a comunicação e a cultura, equivale a fugir não de uma ficção sem nobreza para entrar no espaço da educação formal, porém desprezar um elemento, um componente significativo na constituição da própria realidade. Avalia que descobri-la como espaço educativo é o grande desafio. Espaço que deve ser construído pelos educadores através da análise e crítica do produto.


Pesquisas de recepção e Educação para os Meios – Maria Immacolata Vassallo de Lopes


História Anterior
De acordo com Lopes, na América Latina os estudos vinculados à Educação para os Meios nos anos 1980 foram constituídos como uma linha de trabalho mais de denúncia que pedagógica, pois, eram herdeiros diretos dos estudos críticos de comunicação da década de 1970, desenvolvidos em sua maioria sob uma perspectiva teórica da Escola de Frankfurt. Combinava-se de uma lado a rejeição pela indústria cultural e por outro uma concepção essencialista de cultura popular, como um conjunto de manifestações a ser preservado e protegido. Os meios de comunicação foram tidos quase sempre como maléficos, e deveriam ser combatidos.
Nos anos 1980 ocorreu uma mudança de perspectiva. A Educação para os Meios mudou seu foco para experiências educativas com os receptores, a partir de família, escola, bairro etc. O rompimento com a perspectiva dos anos 1970 se deu devido à crítica em que nos países periféricos apenas absorviam e aplicavam as teorias empíricas dos países centrais, não levando em conta o contexto e as singularidades de cada situação específica.
Perspectiva da recepção: mediações e cotidiano
A partir dos anos 80, a pesquisa de recepção na América Latina mudou sua perspectiva teórico-metodológica. Esta perspectiva buscou superar as limitações de modelos como os da pesquisa dos efeitos, pesquisa de audiências, estudos de crítica literária etc; para um modelo renovador e original.  Este novo modelo buscou organizar as tentativas interdisciplinares e de multimétodos numa teoria mais compreensiva, respondendo às demandas de complexidade e de crítica. Esta nova abordagem se apoia nas perspectivas das mediações e do cotidiano.
A mediação deve ser entendida como o processo estruturante que configura e reconfigura tanto a interação dos membros da audiência com os Meios. Ou seja, a relação dos receptores com os meios de comunicação é multilateral e multidimensional. Ademais, a recepção é tida como um processo e não mais como um momento. E, por fim, o significado de um Meio é negociado pelos receptores, ou seja, não existe garantia de que os significados propostos por uma telenovela sejam apropriados da mesma maneira pelos receptores. Concluindo que o processo de comunicação não se conclui com a sua transmissão, mas é iniciado ali.
Outro aspecto que merece atenção nas pesquisas de recepção é o conceito de cotidiano. O cotidiano é uma dimensão a ser apreendida por pesquisa e análise, conferindo novos sentidos ou influenciando a própria maneira pela qual são entendidos e apreendidos.  “Sobretudo no que diz respeito às manifestações dos grupos, à vida cotidiana e às redes de lazer, é possível afirmar que as utilizações da cultura transbordam os sentidos, extrapolam a lógica da produção, criando formas não previstas pela indústria cultural.”
Recepção e Educação para os meios
1-            Pesquisas de recepção que produzem novos conhecimentos sobre os processos de recepção -> explorar este conhecimento de maneira produtiva, de forma a ser aplicado nos trabalhos de educação para os meios.
2-            Ampliação da função principal da pesquisa de recepção -> não somente alimentar e avaliar a Educação para os meios, mas possibilitar processos de indagação/conhecimento coletivos das mediações e seus padrões de articulação.
3-            Educação para os Meios como linha de pesquisa.
Atualmente, o processo de recepção tem novas premissas, sendo visto para além da relação sujeito-Meios. Esta perspectiva deve ser integrada à Educacão para os Meios, para dar maior fundamento aos programas pedagógicos da área de comunicação.  

Desafios culturais: da comunicação à educomunicação

O texto do filósofo e assessor do Instituto de Estudos sobre Culturas e Comunicação da Universidade Nacional (Colômbia), Jesús Martín Barbero, fala sobre os desafios que as novas tecnologias da Comunicação geram para a Educação. Segundo o autor, essas dificuldades não podem ser deixadas de lado caso se queira construir uma cidadania.
O artigo apresenta os questionamentos que o autor faz sobre a falta de entendimento da formulação de políticas na Colômbia, sobre como a Comunicação pode atuar frente aos desafios que a Educação tem de enfrentar para a formação de cidadãos que sejam livres e capazes de se representarem de forma autônoma na sociedade. Ele discute os empecilhos e a incapacidade de a escola alterar sua relação com a produção e aquisição de conhecimento. O modelo de comunicação predominante na escola é vertical e autoritário na relação entre professores e alunos, e linear sequencial na forma de aprendizagem,. Dessa forma, impede-se que se abra de maneira a enriquecer com novas linguagens dos meios de comunicação. Ele também descarta a mera aquisição de equipamentos e tecnologias, por parte da escola, para a transposição ilustrativa dos conteúdos. Salienta que a escola precisa alterar suas formas de relacionamento com os jovens, com o conhecimento e com o conjunto da sociedade. Essas mudanças comportam entender a centralidade dos processos de comunicação - ao que denominou ecossistema comunicativo - para capacitar o jovem para uma mentalidade crítica, fazendo-o ler o mundo de maneira cidadã.

Educomunicação nas escolas públicas


Na segunda parte da entrevista, o jornalista e educador Alexandre Sayad fala como é feito este trabalho nas escolas públicas. Ele também conta experiências bem sucedidas no Brasil.

Processos educativos


"É possível conceber a Educomunicação como uma área que busca pensar, pesquisar, trabalhar a educação formal, informal e não formal no interior do ecossistema comunicativo"

Branca Nunes conversa com o jornalista e educador Alexandre Sayad sobre educomunicação. Na primeira parte da entrevista, ele explica como os professores podem utilizar os meios de comunicação para trabalhar os conteúdos programáticos.

Censura não é educação



Maria Cristina Castilho Costa


O artigo é um dos resultados de dois projetos de pesquisa de Maria Cristina, para estudar o teatro em São Paulo e a censura, reconstruindo sua história e analisando a interferência da censura nessa produção. A pesquisa teve início em 2002, junto ao arquivo Miroel Silveira, sob a guarda da Biblioteca da Escola de Comunicação e artes da USP. O objetivo do artigo é contribuir com o que já foi revelado na pesquisa, a respeito de como se realizava a censura quando ela estava a cargo de um órgão oficial do Estado.  

Miroel Silveira
Nascido em São Paulo, em 1914, Miroel Silveira foi escritor, poeta, tradutor, crítico literário, diretor e professor de teatro. O seu contato com diversas áreas culturais proporcionou o contato com o Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, para onde eram encaminhada as peças para censura prévia dos textos e liberação para apresentação pública.
A coleção é constituída de 6.137 processos de liberação de peças teatrais, encaminhadas à Divisão de Censura do DDP/SP, entre 1930 e 1970, com tosos os pareceres, carimbos, vetos e cortes dos censores. 


As restrições e cortes 
Ordem religiosa: Eram eliminadas qualquer menção a Deus e aos santos católicos, fazendo defesa da Igreja Católica e de sua doutrina.
Moral: Palavras de apelo sexual e palavrões.
 Política: Nomes de países e governantes.
Social: Menção a conflitos entre grupos e classes sociais.

 Consequências que a censura trouxe para arte
A censura prévia ao teatro não existe desde 1988, quando foi abolida pela constituição. Hoje, os principais alvos dela são os meios de comunicação de massa. A dificuldade dos indivíduos, grupos os instituições em lidar com a diferença, conflito, questionamento e crítica, que consideram seus interesses mais importantes que o direito da sociedade à informação, leva ao desejo que o Estado interfira, evitando a oposição, o confronto e a avaliação de julgar por si mesmo. A autora defende que “a única medida para combater abusos por parte da mídia, é a educação do público, o julgamento e o exercício da cidadania para rejeitar e recusar aquilo que se considera pernicioso ou abusivo”. 

Censura não é educação, um recado para o professor:
“A educação pode formar um público exigente e rigoroso, capaz de desligar a televisão quando ela estiver exibindo programas de má qualidade, de não assistir filmes cujos valores sejam duvidosos. Por isso defendemos tanto que a arte e os meios de comunicação sejam objetos precípuos da educação formal e informal”.
 

Tendências na educomunicação


O professor Carlos Monteiro fala sobre o tema: Tendências em diversas áreas do conhecimento para o curso de Educomunicação.

Comunicação, educação e tecnologia: tríade do século XXI

Guillermo Orozco Gómez



A vinculação que deve se estabelecer entre comunicação, educação e novas tecnologias comporta para uma dupla dimensão. Por um lado, a novas tecnologias devem se articular como suporte de uma comunicação educativa mais diversificada, através do aproveitamento de variadas linguagens, formatações e canais de produção e circulação de novos conhecimentos. Por outro, as novas tecnologias devem constituir-se também em objetos de análise e estudo, através de processos de pesquisas dos seus efeitos, usos e representações culturais. Sobretudo, através do planejamento de estratégias de educação dos usuários que tenham como objetivo formar interlocutores capacitados para uma recepção e produção comunicativa ao mesmo tempo múltipla, seletiva e critica.
Neste novo século as novas tecnologias de informação, ao mesmo tempo que abrem uma série de possibilidades para um intercâmbio mais eficiente e variado de conhecimentos, revelam também um cenário preocupante porque, quanto mais benefícios e promessas de desenvolvimento humano podemos inferir das novas tecnologias, mais esferas da vida cotidiana, política, econômica, profissional, cultural e social são afetadas e, portanto, requerem mais nossa atenção.

Processos educativos 
Tradicionalmente, parte-se do conteúdo a ser aprendido pelo aluno, que é o conteúdo a ser ensinado pelo professor ao aluno. Em uma nova pedagogia se partiria do sujeito educando e do seu contexto. Isso significa que, em uma nova perspectiva, o conteúdo seria sempre o ponto de chegada.
Neste novo século a educação cada vez mais estará vinculada aos meios e tecnologias de informação e que, cedo ou tarde, isto vai modificar de maneira substancial os processos educativos e comunicativos. O cenário do futuro não é estático, muito pelo contrário. Por isso é importante antecipar o papel que tanto educadores quanto comunicadores devemos tomar, para que o sentido e a direção das inevitáveis transformações sejam as mais relevantes para a nossa sociedade.


 

Educomunicação na prática

Esta reportagem da TV Panorama de Juiz de Fora mostra como uma escola daquela cidade utiliza a Educomunicação na formação de crianças.


Um campo de mediações


A relação da educação e da comunicação é tratada por Ismar de Oliveira Soares em seu artigo “Educomunicação: Um campo de mediações”. Nesse texto, o autor fala sobre duas formas através das quais o conceito de educomunicação é encarado. Para alguns, se trata apenas da inter-relação entre os campos de comunicação e educação, enquanto para outros este conceito é um novo campo de estudos. Aqueles que acreditam na inter-relação entre dois campos distintos defendem que eles não devem se integrar, uma vez que perderiam suas respectivas identidades. Já para Ismar, a integração entre comunicação e educação é essencial para um novo tipo de educação cidadã, que torna o sujeito mais consciente e com senso crítico mais apurado.
O autor ainda fala sobre a divisão do homem entre a razão e a sensibilidade trazida pela modernidade. Isso obrigou a educação a ir ara o lado racional e isso deve ser reparado. Ismar ainda cita o pensador Fernando Font destacando que essa reparação não deve acontecer simplesmente excluindo a razão e inserindo a sensibilidade. Sobre isso, Francisco Gutierrez sugere que a escola eduque o indivíduo para a incerteza e para a socialização e, posteriormente para a apropriação de história e cultura. Para isso, a integração entre a comunicação e a educação é indispensável. A educomunicação permite a criação dos verdadeiros ecossistemas comunicativos que possibilitam a verdadeira integração entre professores, alunos e toda a comunidade escolar e a melhoria do aprendizado fortalecendo as relações das pessoas e a democracia. 

O que é Educomunicação?

A Educomunicação é um campo de pesquisa sobre a interface da Educação e da Comunicação. Desta forma, os recursos tecnológicos e da comunicação são utilizados no processo de aprendizagem. Além disso, esa área do conhecimento busca pensar, pesquisar e trabalhar tanto a educação formal quanto a informal, através da troca de experiências e saberes.

Trata-se da expressão que não apenas indica a existência de uma nova área que trabalha na interface da comunicação e educação, mas também sinaliza para uma circunstância histórica, segundo a qual os mecanismos de produção, circulação e recepção do conhecimento e da informação se fazem considerando o papel de centralidade da comunicação.

O conceito de educomunicação traz consigo uma dimensão complexa e que talvez não mai se explique apenas apontando determinados nexos ou interfaces que imantam comunicação e educação. Trata-se de reconhecer, agora, a existência de um campo inter e transdiciplinar, cujos lineamentos deixam de ser dados, apenas, pelos apelos, certamente necessários, de se introduzirem os meios e as novas tecnologias na escola.